Venâncio Mondlane no Conselho de Estado. Foi assim que começou a manhã em Maputo: com a tomada de posse do órgão consultivo do Presidente, e com o ex-candidato presidencial, segundo mais votado em 2024 – a marcar presença e a gerar debate. Em vídeo da cerimónia, Mondlane ergue a taça para o brinde, não bebe, devolve o copo e passa álcool nas mãos. O momento correu as redes e foi interpretado por muitos como um gesto simbólico de desconfiança no sistema.
O gesto que virou manchete
Captado no salão da Presidência, o gesto foi breve, mas potente em leitura política: brindar sem beber e higienizar as mãos logo depois. Sem palavras, Mondlane alimentou conversas sobre protocolo vs. mensagem. Para analistas e internautas, o “não-trago” funciona como sinal silencioso de que continua a manter distância crítica do poder que contesta desde a noite eleitoral. (Interpretação das redes; o vídeo não traz explicação oficial do protagonista.)
Por que Venâncio Mondlane está no Conselho de Estado?
O Conselho de Estado é o órgão que aconselha o Presidente. Um dos lugares é reservado ao segundo candidato mais votado nas presidenciais mais recentes – posição ocupada por Venâncio Mondlane em 2024. A convite do Presidente Daniel Chapo, Mondlane confirmou presença e passou a integrar as sessões do órgão
A reunião e a posse de hoje aconteceram após um adiamento da primeira sessão, inicialmente marcada para 24 de junho. A nova convocatória fixou o arranque para esta segunda-feira, em Maputo.
O pano de fundo: eleições contestadas e país em ebulição
As eleições gerais de 2024 foram validadas pelo Conselho Constitucional, dando vitória a Daniel Chapo – que tomou posse em janeiro. Mondlane não reconheceu o resultado e manteve mobilização nas ruas.
Seguiram-se protestos em várias províncias e um padrão de repressão denunciado por organizações de direitos humanos. A Amnistia Internacional reporta mais de 300 mortes em contexto de repressão pós-eleitoral e pede investigações independentes; outros monitoramentos civis reportam números na mesma ordem.
Ainda em dezembro de 2024, rádios e plataformas locais relatavam pelo menos 12 mortos numa nova vaga de protestos. Em março de 2025, a polícia dispersou a tiro uma marcha de apoiantes de Mondlane em Maputo, episódio que reacesa o debate sobre uso desproporcional da força
O que significa o brinde sem gole?
Numa cerimónia de Estado, gestos contam. Ao brindar e não beber, Mondlane manteve o protocolo mínimo (participar do brinde), mas recusou aderir ao ritual por inteiro. Ao usar álcool nas mãos logo depois, reforçou a leitura pública de distanciamento e cautela. Para uma audiência cansada de violência e desconfiança, o momento condensa a mensagem: presença institucional, sem rendição política.
Não há, até aqui, explicação oficial do próprio sobre o gesto em particular. Mas alinhando com seus atos e discursos recentes, a interpretação dominante nas redes é a de recado político – feito de forma silenciosa, no coração do poder. (Leitura pública; aguarda-se posição formal de Mondlane)
O que vem a seguir
Com o Conselho de Estado completo, o Executivo tenta virar a página para uma agenda económica e de reformas, enquanto a oposição pressiona por verdade eleitoral, responsabilização por abusos e reformas legais. A presença de Mondlane no órgão pode abrir canais de diálogo – mas o gesto de hoje lembra que a desconfiança persiste fora e dentro do salão da Presidência.
