O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, lançou um aviso contundente a Ruanda após os confrontos com tropas sul-africanas na República Democrática do Congo (RDC). Segundo ele, disparos contra soldados da Força Nacional de Defesa da África do Sul (SANDF), em missão de paz, serão encarados como declaração formal de guerra. A declaração intensifica ainda mais a tensão entre Pretória e Kigali

Conflito sangrento e escalada diplomática
Nos últimos dias, a SANDF registrou a morte de pelo menos 13 militares em combates com o grupo rebelde M23, que atua no leste da RDC. As autoridades sul-africanas apontam para o envolvimento de forças ruandesas como responsáveis por parte dos ataques.
A ministra da Defesa sul-africana, Angie Motshekga, afirmou que Ramaphosa alertou Ruanda de que, se os disparos continuarem, Pretória “terá de defender o seu povo”.
Em paralelo, o presidente sul-africano prestou homenagem pública aos soldados mortos:
“Perdemos homens valentes que estavam em missão para proteger vidas e restaurar a paz na RDC”, disse Ramaphosa, destacando que os militares faziam parte de forças da SADC e da ONU. TimesLIVE+1
As acusações de Ramaphosa: M23 e Ruanda sob fogo

Ramaphosa responsabiliza diretamente o M23 — grupo rebelde ativo na região — e as forças ruandesas pelo aumento da violência. Ele afirma que houve uma escalada nos confrontos iniciada por um ressurgimento das hostilidades, com a suposta participação de tropas rwandesas ao lado do M23.
Apesar da gravidade da situação, o presidente sul-africano garante que a presença da SANDF na RDC não constitui uma declaração de guerra por parte da África do Sul, mas sim um esforço de paz e estabilização.
Réplica de Kigali: “Isso é mentira”, diz Kagame
A resposta de Ruanda não se fez esperar. O presidente Paul Kagame, em tom enérgico, negou a versão apresentada por Ramaphosa e acusou o governo sul-africano de distorcer os fatos. Segundo ele, a comunicação oficial sul-africana contém “ataques deliberados, distorções e até mentiras”.
Kagame também contestou a caracterização de suas tropas como “milícia”: para ele, suas forças são um exército regular e não um grupo rebelde.
Além disso, ele questionou a legitimidade da missão da SANDF na RDC, alegando que a operação é ofensiva e participa ativamente de combates, não apenas de manutenção da paz.
Diplomacia acelerada e esforço por trégua
Em meio à escalada, Ramaphosa e Kagame mantiveram pelo menos duas conversas telefônicas. De acordo com o porta-voz da Presidência sul-africana, ambas as partes concordaram com a urgência de um cessar-fogo imediato e a retomada das negociações para um acordo de paz duradouro.
A África do Sul, por meio de suas lideranças diplomáticas, também tem mobilizado instâncias internacionais para resolver a crise: pediu o envolvimento do Conselho de Segurança da ONU, da União Africana (UA) e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC)
Críticas e riscos de escalada
Certos setores da sociedade sul-africana já alertam para o risco real de um conflito regional. Ativistas africanos, por exemplo, lembram dos horrores da Segunda Guerra do Congo, que deixou milhões de mortos, e pedem cautela.
Já do lado ruandês, a escalada de tensões alimenta a narrativa de que Pretória está usando seus soldados para fins políticos, e não apenas para uma missão de paz.
Além disso, o debate interno gira em torno de outra acusação: alguns críticos afirmam que Ramaphosa teria enviado tropas para a RDC para proteger interesses próprios, especialmente em setores de mineração. A Presidência, no entanto, nega veementemente essas alegações, noticiou o o site thestar.co.za
O que está em jogo
- Risco de guerra regional: A ameaça de Ramaphosa não é simbólica — se confirmados novos ataques, pode haver uma virada militar ou diplomática mais drástica.
- Credibilidade diplomática: A escalada afeta a imagem da África do Sul como mediadora de conflitos, especialmente em missões de paz.
- Soberania da RDC: O conflito tem implicações diretas para a integridade territorial da República Democrática do Congo, já que aparece o envolvimento de potências vizinhas.
- Influência internacional: O papel da ONU, da SADC e da UA pode ser decisivo para evitar uma crise ainda maior na região.
A declaração de Ramaphosa marca um momento decisivo nas relações entre a África do Sul e Ruanda. Se, por um lado, Pretória tenta firmar sua postura firme em defesa de suas tropas, por outro Kigali questiona a narrativa e denuncia distorções. A tensão diplomática corre risco de se tornar conflito militar — e a comunidade internacional observa com apreensão